Olá!
Antes que vocês me atirem pedras eu explico:
Sim, estou chocada e triste com o atentado sofrido pelo jornal Charlie Hebdo na França e também os demais atentados que se seguiram e que, infelizmente, ainda estão acontecendo em Paris.
Sim, eu me solidarizo com as famílias que perderam seus entes queridos e à todos os franceses que vivem um momento de insegurança absurda e temem por suas próprias vidas.
E sim, eu não consigo entender o extremismo religioso do Islã, mas entendo que isso não reflete e representa o sentimento de todos os muçulmanos e que seguem ao Profeta Maomé. E, assim como em todos os lugares do mundo não somos unânimes em nossas opiniões sobre política, religião, futebol, etc... E há quem diga que esses assuntos não se discutem, mas eu não concordo, pois os editores e cartunistas do Charlie Hebdo discutiram sim e morreram por isso. E se não discutíssemos esses assuntos não haveriam mais guerras, assassinatos, atentados terroristas, amizades e casamentos destruídos etc. E então, o mundo não mudaria, seríamos apenas marionetes governadas pelo sistema. E será que não somos mesmo marionetes programadas pra só dizer sim? Ou apenas para ficarmos em silêncio?
Mas a diferença entre você, eu e pessoas como os jornalistas do Charlie Hebdo está em quanto estamos dispostos a dizer, assumir e sustentar nossas opiniões e ir contra a um sistema que monopoliza e tiraniza os mais fracos e aos que não conseguem se defender, ou seja, àqueles que não possuem o direito de liberdade nem em pensamento, o que dirá de expressão.
Uma coisa é você discutir religião, política, futebol ou o que quer que seja em uma mesa de bar, na sua casa, no seu trabalho, na rua ou no facebook. Outra coisa é você sustentar sua opinião em um jornal de grande circulação, assumindo risco de vida, não somente seu, mas de sua família, seus funcionários, sua cidade, seu país etc.
Então não me venha agora ser valente e sair com cartazes nas ruas dizendo: "Eu sou Charlie" ou em francês: "Je suis Charlie", ou publicar isso no facebook se você desliga o computador, abre uma cerveja e vai assistir à novela das 21h na Globo.
É hipocrisia neste país as pessoas agirem com preconceito nas ruas e quando chamam a polícia ou são processadas elas dizem: "Não sou homofóbico e nem racista, não quis dizer isso, você me entendeu mal."
Veja bem, não há problema em você assistir novelas, futebol, manifestar a sua opinião no bar ou no facebook, eu também faço isso, mas o que quero chamar a atenção aqui é que existem pessoas que realmente estão arriscando as suas vidas em prol da liberdade de expressão e batalhando para que o mundo mude e que emprestam sua voz, ou neste caso desenhos, para àqueles que são oprimidos e sofrem. Não é apenas gritar ao mundo usando o politicamente incorreto e nem o humor, pois o terrorismo não tem nada de engraçado e a opressão seja política, religiosa, ou qualquer outra é inaceitável.
Eu também não sou Charlie mas admiro, respeito e honro a coragem deles. Eu me manifesto, grito, choro com as injustiças do mundo e admito ser polêmica muitas vezes, mas temo perder a minha vida por causa da violência do mundo e dificilmente faria um trabalho como os dos jornalistas e dos cartunistas do Charlie Hebdo e tantos outros que trabalham com este tipo de jornalismo ou em áreas de conflitos. Sou covarde? Sim, assumo que sim, e daí? E digo dificilmente faria isso, pois nunca se sabe o dia de amanhã, e talvez lá eu mude de ideia e vá para a linha de frente de algum conflito, mas enquanto isso não acontece, tenho me sentido horrorizada e assustada com os rumos do mundo.
E não há problema em você ou eu não sermos como Charlie Hebdo, mas vamos honrar e respeitar a vida e a morte dessas pessoas que tanto lutaram e não vamos banalizar a luta deles saindo com cartazes nas ruas por que virou modinha de rede social. E para àqueles que realmente são como Charlie Hebdo aqui no Brasil ou no mundo, também manifesto a minha profunda admiração e respeito.
Stéphane Charbonnier, editor chefe do Jornal afirmou:"Prefiro morrer de pé a viver como um rato." Ele fez sua escolha, assim como fazemos a nossa todos os dias. E eu quero acreditar que realmente essas mortes não foram em vão e se o objetivo dos terroristas eram calar essas vozes, entendo que o tiro saiu pela culatra. Pois essas vozes foram silenciadas, mas o sacrifício deles chamou a atenção do mundo rumo à uma nova consciência com mais lucidez e paz.
Descanse em paz Charlie Hebdo! Nós continuaremos mais algum tempo por aqui, refletindo, pensando e tomando consciência. Obrigada por tudo o que vocês realizaram.