LITERATURA, MÚSICA, CINEMA, ATUALIDADES E OUTRAS DELÍCIAS...

10 de maio de 2015

Carta à minha Mãe!


Mãe, você sabe que não sou muito boa com as palavras e, apesar de ser considerada uma pessoa comunicativa por todos, quando se trata de comunicar meus sentimentos mais íntimos e caros as palavras parecem que fogem de mim. Por isso te escrevo essa carta, pois sinto que ao escrever minha alma e meu coração é que se expressam sem obstáculos e sem interrupção.
Um dia você me contou que, quando me esperava, correu o risco de me perder e com isso ficou de repouso absoluto até que eu estivesse segura dentro de você. Já começou aí a sua preocupação comigo, mas não contente, você aceitou as mudanças de seu corpo enquanto eu crescia e ocupava cada vez mais espaço em seu corpo te fazendo engordar e talvez neste momento eu tenha te deixado insegura por você não se sentir mais tão atraente e bonita aos olhos do meu pai. 
E, quando o grande dia chegou, te dei outro susto, pois minha ansiedade de conhecer o mundo fez com que eu saísse de dentro de você praticamente sozinha, ou seja, antes que a equipe médica estivesse pronta pra me ajudar a nascer, mas ufa, deu tempo e o médico conseguiu me segurar antes que eu caísse da mesa de parto, mas você teve que gritar ao chamá-lo para que desse tempo. Obrigada por isso!
A partir daí você me alimentou em seu seio mesmo que isso te causasse dor, cuidou para que eu crescesse forte e saudável, ensinou-me a andar e acompanhou meus passos e nunca deixou de fazer isso mesmo à distância, pois ainda sinto que mesmo em silêncio você fica à espreita para me ajudar quando eu preciso de algo, ou seja, você sempre está à postos e parece que adivinha até hoje quando preciso de você.
Os anos se passaram e agora adulta compreendo e aceito cada vez mais este amor e tudo que nele contém, e a cada dia que passa compreendo que não poderia existir uma mãe mais certa para mim do que você. A vida te escolheu para mim e agradeço profundamente por você ter aceitado a oferta. Pois, ser mãe não deve ser uma escolha muito fácil, então espero que você pense e sinta que esta decisão esteja valendo a pena.
Mãe, todos os dias quando me olho no espelho ainda me surpreendo com a nossa semelhança física, que fica cada vez mais visível para nós e para todos, mas se um dia conseguir ser lembrada e comparada, mesmo que em uma pequena porcentagem à sua fibra, força, caráter, honestidade e amor, me considerarei uma mulher realizada. Não tenho como agradecer à vida que você me deu, mas posso, comparado ao seu exemplo, crescer e evoluir cumprindo a minha missão da melhor maneira possível e fazendo algo de bom com a imensa dádiva que recebi de você. Te amo hoje mais do que nunca, pois a cada dia compreendo um pouco mais os sacrifícios que fizestes estando à serviço do amor e da geração da minha vida. E te amarei eternamente em nossos encontros, reencontros, desencontros e separações por toda a eternidade. Feliz Dia das Mães, aliás, Feliz todos os dias!


3 de maio de 2015

Memórias Póstumas de um Professor no Brasil



Meu nome é João Manoel Silva, tenho orgulho desse nome tão comum e tão brasileiro, tenho 74 anos e sou Professor por amor, por vocação e pelo destino. Nasci em uma família de agricultores analfabetos no interior de São Paulo, mas creio que o meu amor pela educação e pelos livros trouxe comigo em minha bagagem muito antes de eu nascer. Aprendi a juntar as letras e a formar palavras sozinho e ficava escondido atrás da porta quando a professora particular visitava a casa grande da fazenda para ensinar os filhos dos patrões a ler e a escrever.
Uma vez fui pego em flagrante pela dona da casa e chorando pedi que ela me deixasse ali para continuar aprendendo e prometi que faria silêncio e que não atrapalharia a aula dos filhos dela. E ela e minha professora se compadeceram de mim e permitiram que eu estudasse junto com os futuros doutores daquela família. Elas se tornaram meus anjos.
O tempo passou e eu cresci, aprendi a economizar todo o dinheiro que ganhava na fazenda cultivando a terra, para no futuro realizar o sonho de conseguir fazer faculdade e escolhi ser professor para retribuir o que recebi e para fazer com que mais pessoas tivessem um destino melhor que o meu. Um dia deixei a fazenda e vim para São Paulo, dormia em pensão, trabalhava fazendo bicos nos comércios da cidade, até que um dia conheci um professor que mudou a minha vida. Ele conseguiu que eu ganhasse uma bolsa de estudos e terminasse o supletivo e posteriormente conseguiu um trabalho de bibliotecário na faculdade em troca de mais uma bolsa de estudos.
Os anos se passaram e quando tinha 23 anos e era recém-formado veio o golpe militar e a ditadura, mas como era impossível que calassem a minha voz fui obrigado a partir para o exílio na França. Fui ajudado por muitos artistas abastados e pessoas de influência no governo que eram contrárias à política da época.
Passei 20 anos em Paris e lá tive a oportunidade de estudar e conhecer a história do mundo e estudei além de História, Sociologia e Filosofia. E quando a ditadura finalmente acabou voltei ao Brasil com o coração repleto de sonhos e com o coração batendo mais forte no peito.
Meus pais já haviam falecido e muitos amigos que não conseguiram fugir desapareceram ou ficaram loucos em consequência das torturas que sofreram.
Mas, apesar dos sonhos, infelizmente logo constatei que o Brasil não era um país que valorizava os professores e que a educação caminhava de mal a pior e uma profissão que faz com que todas as outras profissões existam, era uma das últimas no reconhecimento salarial e incentivo profissional. E constatei também que aqui é mais seguro que as pessoas estudem, pensem e argumentem cada vez menos para garantir que votem cada vez pior e que deixem no poder àqueles que só representam a si mesmos e aos seus próprios interesses.
Mesmo assim não desisti, trabalhei em escolas, faculdades públicas e particulares e também fui voluntário na alfabetização de adultos, pois nunca esqueci o que àquela senhora e àquela professora na fazenda fizeram por mim.
Mas com o passar dos anos fui percebendo que o respeito que se dedicavam aos professores, que em minha época eram sagrados, se transformou, pois hoje somos tratados como empregados das crianças, adolescentes e seus pais, pois se eles pagam as mensalidades escolares somos obrigados a passar de ano alunos quase que totalmente despreparados para um novo ano escolar, o que dirá para o futuro.
Mas mesmo assim não desisti e não parei de lecionar nem quando me aposentei.
Mas hoje é muito triste constatar que cada vez menos jovens escolhem esta profissão e quando a escolhem é para trabalhar em outras áreas que exigem essa qualificação e que são melhor reconhecidas e remuneradas.
Ainda sim sonho com o dia em que os professores sejam reconhecidos e valorizados como o são no Japão, em que até o Imperador se curva diante deles por reconhecer que em uma terra que não há Professores não poderá haver Imperadores.
Mas minha história de lutas acabou hoje, pois enquanto estava nas ruas lutando mais uma vez pela educação e por um mínimo de dignidade e condições de trabalho, meu coração não resistiu quando fui atacado por um ex-aluno que pertencia à tropa de choque e que nos atacava com balas de borracha, gás lacrimogênio e spray de pimenta. Parecia cena de guerra e ao meu lado dezenas de professores estavam no chão machucados e havia sangue escorrendo pelos seus rostos manchando suas faixas e bandeiras.
E enquanto agonizava, ele me reconheceu e tentou me salvar fazendo massagem cardíaca mas já era tarde demais para mim, pois o Mestre estava morto.
Eu desisti da vida e espero entrar para a história copiando a frase de Getúlio Vargas. E a luta continua, antes que seja tarde demais, porque a Educação no Brasil parece que está respirando com a ajuda de aparelhos.  

Nota: Essa história é fictícia e qualquer semelhança de nomes ou história é apenas uma mera coincidência. Mas esta crônica que escrevi é apenas para a reflexão e para retratar a tristeza que sinto pela situação em que os professores se encontram hoje. Eu sou professora, apesar de não lecionar e carrego uma profunda e inesquecível gratidão à todos os professores e professoras que tive em minha vida. Pois sem eles nada do que conquistei na vida teria sido possível e nem mesmo seria possível escrever este texto que vos apresento com humildade e amor.

2 de maio de 2015

Sim e Não


Autor: Bert Hellinger
Livro: Liberados somos Concluídos

Um sim sempre é também um não, e um não sempre é também um sim, pois quando dizemos sim a algo, estamos dizendo não a outro e, quando dizemos não a algo, estamos dizendo sim a outro. Quando um casal se dá o sim, diz não a todos os demais parceiros possíveis. Este sim está aqui direcionado a uma consumação, a uma ação. Exclui uma ação contrária à ação afirmada. Por isso limitamos nossa liberdade de ação por meio desse sim. No entanto, há um ganho correspondente que nos faz esquecer essa limitação.
Para nós, o que é a liberdade sem um sim? Essa liberdade só existe até nos decidirmos por algo. Sem uma decisão, ou seja, sem um sim, a liberdade é vazia. O que lucraríamos com a liberdade, se não a utilizássemos para um sim e para uma consumação correspondente a esse sim?
Algo semelhante ocorre com o não. Com o não, excluímos um sim e uma consumação correspondente ao sim. O não se nega a agir. No entanto, após o não, temos liberdade para decidir por algo novo ou diferente. Através do não, ressalvamos nossa liberdade para um diferente sim. O não é como uma preparação para um diferente sim. Sem um novo sim e uma ação correspondente ao novo sim, o não permanece vazio, semelhante à liberdade. 
Mesmo se dissermos sim, podemos decidir de novo. Essa nova decisão dá continuidade ao sim. Também podemos voltar a dizer não àquilo que antes havíamos afirmado e com isso ganhamos liberdade para um outro sim e para uma outra ação. Pelo menos parece ser assim. Porém, quando se trata de coisas essenciais, as possibilidades para um novo sim estão limitadas. Um excesso de sim acaba por atuar como um não. Limita nossas possibilidades, pois os outros não confiam mais em nosso sim. Algo semelhante acontece também com um excesso de não. No final, ambos nos tornam solitários.

1 de maio de 2015

Desigualdade X Diferença



Neste 1° de maio, Dia do Trabalhador, compartilho este vídeo de uma campanha de conscientização feita por um restaurante para chamar a atenção de todos sobre a desigualdade existente no salário entre homens e mulheres, em que elas ganham cerca de 30% menos que eles para desempenharem as mesmas funções. Antes que todos soubessem do que se tratava, a cobrança no cardápio de 30% a mais nos pratos somente para os homens causou indignação neles e até em algumas mulheres que consideraram a prática abusiva e absurda.
Mas quando o gerente esclareceu a campanha todos ficaram em silêncio por alguns segundos refletindo sobre algo que as mulheres enfrentam diariamente em seus trabalhos ao receber menos para realizarem as mesmas funções, ou quando elas têm uma brilhante ideia que não é aceita, mas quando um homem diz a mesma coisa é aplaudido e considerado.
Mas, enfim, sem querer fazer um discurso que muitos considerariam feminista, sugiro apenas que vocês homens e mulheres parem por um momento para refletirem sobre este tema.
E isso tudo me fez lembrar de uma aula de Sociologia que tive na Faculdade anos atrás, em que meu professor explicou brilhantemente a diferença entre Desigualdade e Diferença.
Essas duas palavras são consideradas por muitos como sinônimos mas não são. Ou seja, Diferença é o que difere os seres humanos uns dos outros em sua essência descritiva, no todo ou em algum aspecto particular. Por exemplo: homens e mulheres na questão somente de sexo, jovens e idosos na diferença de idade e força física, diferenças culturais, religiosas, geográficas, linguagem, raça (aqui se apresenta diferenças apenas nas etnias e pode ser considerada a cor da pele também, mas apenas em uma situação natural para descrever o biotipo de um ser humano e só). Já a Desigualdade se apresenta não na presença de essências distintas e descritivas dos seres humanos e sim quando um grupo se privilegia do outro em circunstâncias históricas, sociológicas, culturais, religiosas geográficas e etc para subjugá-lo à sua vontade e para tirar vantagem dos mesmos para atingirem seus próprios interesses ou de seu grupo.
Aqui se torna desigual e injusto, por exemplo, o rico e o pobre, o homem branco que escraviza o homem negro, a exploração do trabalho infantil, a exploração da mão-de-obra barata de países subdesenvolvidos e por fim os salários mais baixos de mulheres que desempenham as mesmas funções dos homens no mercado de trabalho.
O que quero ressaltar aqui é que a Diferença está presente como algo natural e cultural que está presente desde o nosso nascimento. Já a Desigualdade é construída socialmente ao longo dos anos e passada de geração em geração.
Um homem/mulher negro, índio, amarelo, etc não é menos capaz de estudar, se desenvolver, trabalhar e ganhar um salário justo pela cor de sua pele, já que sua constituição física e intelectual são as mesmas dos homens brancos. E assim o é para as mulheres também, assim como um povo que nasceu em um país subdesenvolvido não deve ser explorado pelo país desenvolvido.
Somos todos seres humanos iguais em sua essência, apenas diferentes em sua descrição.
Pense nisso!