Lembro-me daquela terça-feira há 10 anos como se fosse hoje. Era aparentemente um dia comum de trabalho. Cheguei as 08:00hs, liguei o computador, chequei meus emails, agenda do dia etc...Pouco tempo depois resolvi dar uma olhadinha nas notícias da internet pois, não tenho paciência com os jornais impressos até hoje. Quando um colega da mesa à frente dá o horroroso alarme: "Acabei de ver na internet, aconteceu um acidente horrível em New York, um avião colidiu com uma das Torres Gêmeas!!"
Também li as primeiras notícias na internet e até aquele momento ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido e parecia realmente um acidente horrível. E corremos para ligar a TV na sala de reuniões do andar, outros setores da empresa correram até à nossa sala. Todos comentavam e davam suas opiniões acima das vozes dos repórteres e eu só pensava em meu irmão e minha cunhada..."Onde eles estão agora
?" . Meu irmão trabalhava ali perto em uma concessionária de automóveis.
Eu estava imersa em meus pensamentos quando, de repente, vimos ao vivo o segundo avião bater...Juntos todos dissemos: "Não foi um acidente, foi um atentado terrorista!!".
Meu estômago gelou e alguém me ofereceu uma cadeira e um copo d'água, minhas mãos tremiam e todos sabiam o que estava me preocupando. E alguém disse, talvez foi meu chefe: "O mundo vai mudar a partir de hoje, nada mais será o mesmo!". E realmente nada foi.
Tentava ligar no celular do meu irmão mas, os telefones estavam mudos, e também na loja em que ele trabalhava e nada, tudo permanecia em silêncio do outro lado, um silêncio angustiante...E umas duas horas depois consegui que um americano atendesse o telefone da loja com uma voz ansiosa...e eu, com meu inglês ruim só conseguia dizer o nome do meu irmão e que eu estava ligando do Brasil e que queria falar com ele...Ele falou devagar para que eu entendesse o seu inglês, com uma gentileza que me causou gratidão em meio ao caos que ele estava vivendo, ele disse que estavam todos bem, com medo claro, e sem entender o que estava acontecendo e disse para eu ficar calma que ele chamaria o meu irmão mas, não sem antes garantir que eu o esperaria na linha e que eu o havia entendido e eu só dizia: "Yes, thank you!".
Senti-me impotente, pensei que poderia ter estudado e aprimorado melhor o meu inglês, queria dizer que eu sentia muito e que estava triste por todos eles e por nós, e nem ao menos soube se esse americano tinha alguém da família ou um amigo que estava em uma das Torres, ele estava arrasado, consegui sentir mas, a limitação da língua não me permitiram dizer nada a ele que o confortasse. E, depois ouvir a voz do meu irmão me tranquilizou, ele disse que não podia falar muito porque os outros queria usar o telefone também e o sinal estava raro naquele local mas, saber que ele estava bem fez meu coração ficar tranquilo. Pedi a ele que agradecesse àquele americano gentil que me atendeu e que jamais soube o nome.
Mas, tinha medo pela minha mãe. Ela estava sozinha em casa com a TV desligada e eu a avisei para ligar a TV enquanto falava comigo e eu só falei com ela depois de ter falado com o meu irmão para dar a notícia de que ele estava bem. Ela se apavorou e sofre de pressão alta e apenas um mês antes, ela e minha irmã tinham ido visitá-los e, se Bin Laden escolhesse outra data ao invés de 11 de setembro, poderia ter perdido toda a minha família. Porque lembro-me de uma ligação delas descrevendo o shopping do World Trade Center, as galerias, restaurantes, etc...Naquele mesmo ano em abril já havíamos perdido meu pai e, não quero nem pensar no que se transformaria a minha vida se eu tivesse perdido todos eles também.
Foi um ano difícil aquele. Eu não viajei com elas em julho porque era o meu primeiro trabalho e tinha começado em janeiro daquele ano e ainda não tinha direito a férias. Felizmente todos os meus entes queridos estavam bem e elas tinham voltado ao Brasil antes da tragédia.
Mas, com quantas famílias a tragédia sem piedade mudou o rumo de suas vidas
? Quantos orfãos restaram dos pais do 11 de setembro
?
Jamais esqueceremos desse dia, tanto os mortos das Torres Gêmeas, dos aviões que atingiram as Torres e dos heróis anônimos que estavam no avião que caiu na Pensilvânia e que reagiram ao sequestro e lutaram contra os terroristas e os mortos do avião que atingiu o Pentágono.
Temos ainda a memória individual desse dia mas, com o tempo ela se transformará em memória coletiva nos livros de história que, assim como a história das guerras medievais, e das duas grandes guerras mundiais, o 11 de setembro já é lembrado como o maior ataque terrorista da História moderna como uma inauguração agourenta e sangrenta do século XXI.
E mais, a caçada ao Bin Laden que se seguiu, a Guerra do Iraque e essa mancha de sangue que não se apaga e não se apagará nunca e essa sombra e o medo da continuação do Terrorismo dos seguidores de Bin Laden e a sede de vingança parece um jogo de dominó que somente acabará quando for derrubada todas as peças ou, se preferir, todas as Torres...quando cessará o medo
? Teremos enfim, o direito à Paz Mundial que tanto sonhamos
? Fica a reflexão e a oração às vítimas do massacre e suas famílias.